postado em 08/09/2022 22:56 / atualizado em 08/09/2022 23:11
(crédito: AFP)
Nesta quinta-feira (8/9), o mundo se despediu da mais longeva monarca britânica, a rainha Elizabeth II, que faleceu aos 96 anos após uma piora de saúde. Elizabeth Alexandra Mary nasceu em 1926 e esteve no comando do trono britânico por sete décadas.
O posto foi ocupado quando ela estava com apenas 25 anos de idade, após o pai, o rei George VI, falecer por câncer de pulmão. Por mais de 70 anos, Elizabeth II protagonizou momentos marcantes na história do Reino Unido e do mundo.
Foi a rainha que instituiu a transmissão televisiva de eventos da monarquia, a começar pela coroação dela, a primeira a ser televisionada. Elizabeth também quebrou alguns protocolos da monarquia e instituiu a “caminhada entre os plebeus”, um ato de cumprimentar cidadãos dos países em que ela visitava.
Foi ela também que marcou o retorno das relações diplomáticas entre o Reino Unido com a Alemanha, após as duas guerras mundiais. A Rainha sofreu várias tentativas de atentado e vivenciou as mais variadas crises na Família Real, como a separação conturbada do príncipe Charles e da princesa Diana e do príncipe Andrew, ambas em 1996, o falecimento de Diana, em 1997, e a saída do neto príncipe Harry da monarquia, em 2021.
Relembre abaixo alguns dos momentos que marcaram o reinado da rainha:
1) De criança para herdeira do trono britânico: Elizabeth II foi preparada para assumir o trono com 10 anos de idade
Filha do Duque e da Duquesa de York, Albert Frederick George e Elizabeth Bowes-Lyon, Elizabeth nasceu em 1926 e parecia não ter grandes chances de ocupar o trono britânico, apesar de ser a terceira na linha de sucessão. Seu avô, George V, o primeiro membro da dinastia de Windsor a ser coroado, estava no poder. Depois dele, Eduardo Patrício David, tio dela, e George VI, o pai dela, eram os próximos a ocupar o trono.
Além disso, era preciso que Eduardo não tivesse filhos para que o pai de Elizabeth comandasse o trono britânico, por isso não era esperado que ela chegasse ao poder. Após a morte do avô, George V, em 1936, Eduardo se tornou rei, mas renunciou ao comando por pedir uma estadunidense divorciada em casamento, atitude condenada pela monarquia britânica.
No mesmo ano, o pai de Elizabeth se tornou Rei George VI. Elizabeth estava apenas com 10 anos e passou a ser formada para ocupar o trono: foi ensinada dentro do palácio, e não na escola, passou a ter aulas de história constitucional com o vice-reitor do Eton College, passou a aprender francês e uma companhia foi feita para ela interagir com meninas da mesma idade dela, com a segurança que uma herdeira do trono deve ter.
Ela assumiu o trono a partir de 6 de fevereiro de 1952, quando o pai dela faleceu por câncer de pulmão. Ela já estava casada com o príncipe Phillip da Grécia desde 1947, após uma cerimônia de casamento que reuniu 2,5 mil pessoas de todo o mundo.
2) Apoio às crianças do Reino Unido e alistamento nas Forças Armadas durante a Segunda Guerra Mundial
Em 1940, Elizabeth II fez, com a ajuda da irmã Margareth, o primeiro pronunciamento público, aos 14 anos. A fala da futura herdeira do trono foi veiculada na rádio BBC do Reino Unido e dos outros países que formavam o Commonwealth, e direcionada às crianças das nações que haviam sido evacuadas das casas para não serem feridas pelos bombardeios aéreos dos quais o Reino Unido era alvo após a entrada dele na Segunda Guerra Mundial, em setembro de 1939.
“Estamos tentando fazer tudo o que pudermos para ajudar os nossos valentes marinheiros, soldados e aviadores, e também estamos tentando suportar a nossa quota de perigo e tristeza da guerra. Sabemos, cada um de nós, que no final tudo ficará bem”, disse no pronunciamento, de acordo com a BBC.
Em 1945, ela se alistou às Forças Armadas e se juntou ao Serviço Territorial Auxiliar, onde treinou e serviu como motorista e mecânica.
3) Primeira coroação televisionada
Apesar de assumir o trono em 1952, após a morte do pai, Elizabeth II foi coroada como rainha apenas um ano depois, em 1953. A cerimônia, a mais importante do Reino Unido, foi a primeira coroação do mundo a ser transmitida pela televisão, após o príncipe Phillip propor a ideia para Elizabeth.
Dentro do Reino Unido, estima-se que 27 milhões de pessoas assistiram à cerimônia e outras 11 milhões ouviram pelo rádio. A partir deste ano, outros eventos da família real passaram a ser transmitidos pelas duas plataformas.
4) Primeira a retornar à Alemanha ocidental e a visitar a China continental
Em 1965, a rainha Elizabeth II cumpriu uma tarefa diplomática que marcou o retorno das relações entre o Reino Unido e a Alemanha Ocidental. Ela visitou a Alemanha Ocidental, país que não era visitado por um monarca britânico desde 1913, um ano antes do início da Primeira Guerra (1914-1918), período em que foi inimigo do Reino Unido — dinâmica que se repetiu na Segunda Guerra (1939-1945).
Elizabeth II também foi a primeira da Monarquia britânica a visitar a China continental, em 1986. Em 1957, ela também se tornou a primeira a abrir um ano parlamentar no Canadá, que até hoje tem Elizabeth como rainha.
5) Caminhada entre os plebeus
De acordo com estudiosos do modelo de governo, os monarcas se mantinham, até o reinado de Elizabeth, longe de um contato próximo com civis do próprio país e de outros que visitavam— apenas acenavam dos carros em que estavam. A rainha, no entanto, quebrou o protocolo e instituiu uma “caminhada entre os plebeus” em uma visita à Austrália, em 1970. Ela chegava perto das multidões e até trocava cumprimentos com quem estava ali para visitá-la.
6) Encontro com Pelé e visita a Brasília
A capital do Brasil recebeu uma visita única da rainha Elizabeth II. Ela desembarcou em Brasília em 5 de novembro de 1968, e foi recebida em um banquete restrito com o comando do presidente da ditadura militar, que na época era Arthur da Costa e Silva. No dia seguinte, ela passeou pela cidade e passou por diversos salões de festas que juntos somavam mais de quatro mil pessoas — segundo a repórter do Correio Liana Sabo, que cobriu o evento.
Dias depois, ela embarcou para o Rio de Janeiro para cumprir os últimos compromissos no país. Em 10 de novembro, a Rainha Elizabeth conheceu o Rei brasileiro, pelo menos nos campos de futebol, o Pelé. Ela esteve frente a frente com Pelé, que fez questão de agradecer a presença dela e do marido Phillip em uma partida de futebol que ele jogou. O encontrou ocorreu no Maracanã após uma partida entre as seleções do Rio e de São Paulo, que acabou com a vitória dos paulistas.
Pelé, na ocasião, marcou o 900º gol da carreira, aos 39 minutos do primeiro tempo. Apesar do período de regime militar, o Brasil simpatizou com a visita de Elizabeth e com o encontro entre as realezas. Em 1997, Elizabeth condecorou o brasileiro Rei do futebol com a medalha de Ordem do Império Britânico, a mais alta honraria do país.
7) Tentativas de atentados
A Rainha Elizabeth II foi vítima de diversas tentativas de assassinato. Em 1981, dispararam seis vezes contra ela enquanto a monarca cavalgava, mas os tiros eram de festim. O autor dos disparos tinha dezessete anos e foi sentenciado a cinco anos de prisão.
Pouco depois, em outubro do mesmo ano, durante uma visita à Nova Zelândia, ela foi surpreendida por um garoto de 17 anos enquanto desfilava numa parada de carros. Christopher John Lewis, com uma espingarda, apontou e disparou contra a rainha, mas a arma falhou. Ele foi preso e solto pouco depois, mas voltou a planejar ataques contra a monarca. Ela morreu em 1997 na prisão.
Em 1982, ela acordou com um intruso no quarto dela, no Palácio de Buckingham. Sem saber o que ele queria, Elizabeth permaneceu calma e conversou com ele enquanto apertava o botão de emergência que se encontrava no recinto. O homem foi preso sem nenhum ataque à integridade física da rainha.
8) “Anos terríveis”: divórcios, crise institucional e a morte da princesa Diana
Annus horribilis, “anos terríveis”, assim classificou a rainha Elizabeth o início da década de 90 para ela e a família dela. Em março de 1992, o segundo filho dela, príncipe e Duque de Iorque André, se separou da esposa Sara Ferguson. Em abril do mesmo ano, a filha e princesa Real Ana se divorciou do marido Mark Phillips. Em outubro, manifestantes da Alemanha jogaram ovos nela e, em novembro, um grande incêndio atingiu o castelo de Windsor.
Ao revelarem imagens do interior do castelo, fortes críticas passaram a ser feitas à monarquia, que resultou na mudança da lei e na obrigação da rainha passar a pagar imposto de renda em 1993. Em dezembro de 1992, o primogênito da rainha, príncipe de Gales Charles, se divorciou da princesa Diana.
A rainha resistiu às turbulências, que se acalmaram até 1997, quando Diana faleceu, um ano após o divórcio oficial entre ela e o príncipe Charles. A rainha se resguardou por cinco dias no Castelo de Balmoral, junto com os filhos de Diana, e foi cobrada por não comentar a morte.
Os britânicos, consternados pela perda de Diana, cobravam um posicionamento oficial, e criticavam o não cumprimento de um rito oficial do Reino Unido: a bandeira hasteada a meio-mastro no Palácio de Buckingham em manifestação de luto.
Com a crise institucional, Elizabeth voltou a Londres em 5 de setembro, um dia antes do funeral de Diana, e veiculou um pronunciamento ao vivo, na TV e nos rádios, em que ela expressou a admiração que tinha pela ex-nora e os sentimentos pela perda dos netos.
9) Crise do Coronavírus e morte do marido Phillip
Outro grande desafio vivido por Elizabeth II foi a pandemia da covid-19: um mal global, mas que era um risco iminente principalmente para ela, que era grupo de risco por ser idosa. Assim que o vírus se espalhou e as mortes começaram a se acumular por todo mundo, Elizabeth falou com os britânicos e classificou o problema como um dos maiores do Reino Unido desde a Segunda Guerra Mundial.
“Isso me faz lembrar da primeira transmissão que eu fiz, em 1940, ajudada por minha irmã (quando ela falou às crianças tiradas de suas casas durante a Segunda Guerra). Embora tenhamos enfrentado desafios antes, este é diferente. Desta vez, nos unimos a todas as nações do mundo em um esforço comum”, disse. Na época, as aparições da monarca foram suspensas em um esforço de protegê-la do vírus.
Pouco menos de um ano depois, em fevereiro de 2021, a rainha teve que enfrentar outra notícia difícil, dessa vez, no entanto, de cunho estritamente pessoal: a morte do príncipe Phillip. Os dois estavam casados por 69 anos quando ele não resistiu a recuperação de uma infecção e de uma doença cardíaca preexistente.
10) Desligamento do príncipe Harry da família real e acusações de racismo
Em fevereiro de 2021, uma nova crise institucional atingiu a família real, que foi comparada à crise do divórico e do falecimento da princesa Diana, na década de 90. O príncipe Harry e a princesa Meghan anunciaram oficialmente o rompimento com a monarquia britânica.
A saída veio um ano após o casal informar à rainha, em janeiro de 2020, sobre as intenções de deixarem a monarquia. Na ocasião, Elizabeth deu um ano para os dois pensarem, em troca da retirada provisória dos compromissos públicos como monarcas.
Com a decisão, todos os títulos foram retirados do príncipe Harry, inclusive os militares obtidos após servir no Afeganistão. Eles deixaram o Reino Unido e foram morar nos EUA. A crise, no entanto, estava longe de acabar.
Um mês depois, em 7 de março de 2021, os dois concederam uma entrevista exclusiva à apresentadora Oprah Winfrey, onde revelaram denúncias de racismo, manipulação e desprezo dentro da família Real.
Eles afirmaram que um membro da família, que não seria a rainha Elizabeth ou o príncipe Charles — de acordo com os duques —, afirmou ter uma preocupação sobre o tom de pele que o primeiro filho dos dois teria, já que Meghan é filha de mãe negra e de pai branco. O casal ainda disse que o filho, Archie, não receberia o futuro título de príncipe por racismo.
Meghan compartilhou que sofreu com instintos suicidas na gravidez por estar em isolamento “forçado” no palácio de Kensington e que, ao pedir ajuda médica, sofreu com “falta de atenção, quase desprezo” da família.
Após dois dias de silêncio, uma nota oficial em nome da rainha Elizabeth II, afirmou que as acusações são “preocupantes”, principalmente a de racismo, e que estavam sendo “levadas muito a sério”. “A família inteira está triste em saber o quão desafiadores os últimos anos têm sido para Harry e Meghan”, diz o documento.
Apesar da nota, a ruptura parece ser inegociável. A última vez que o casal esteve no Reino Unido foi em junho deste ano, na comemoração dos 70 anos de reinado de Elizabeth.