A prisão essa semana do ex-secretário da Polícia Civil do Rio de Janeiro Allan Turnowski revelou a ligação entre a alta cúpula da polícia do estado com grupos criminosos. De acordo com o Ministério Público, Turnowski negociava propinas e vazava informações para lideranças do jogo do bicho.
Allan Turnowski foi preso na manhã de sexta-feira (9), em casa, por organização criminosa, corrupção e envolvimento com o jogo do bicho, em uma operação do Ministério Público e do Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado (Gaeco). Ele estava em campanha para um cargo de deputado federal pelo PL, partido do governador Cláudio Castro, de quem foi secretário de Polícia Civil até março deste ano.
Segundo o Ministério Público, Turnowski tinha relação muito próxima com outro delegado, Maurício Demétrio, que está preso desde maio de 2021, acusado de negociar pagamento de propina para interferir em investigações, além de usar a estrutura da polícia para armar falsas operações. Os dois chamavam um ao outro de “guru” nas trocas de mensagens recuperadas em um dos 12 celulares de Demétrio.
“Nós somos um CNPJ, um CPF só! Irmãos de embrião”, disse Turnowski para Demétrio em uma das mensagens.
Ao todo, o aparelho tinha 23.133 mensagens de texto ou áudio. Segundo o MP, a partir desses arquivos é possível entender a ligação de Demétrio e Turnowski com o jogo do bicho. As investigações apontam que Turnowski fazia jogo duplo entre dois dos maiores bicheiros do Rio de Janeiro: ele obtinha informações de Rogério Andrade e as repassava para Fernando Iggnácio a partir de Demétrio, que funcionava como uma ponte.
Rogério de Andrade é sobrinho de Castor de Andrade, um criminoso com influência no futebol e nas escolas de samba. Iggnácio era genro. Castor morreu em 1997 e deixou o controle dos pontos de jogo do bicho para o filho, Paulinho, que foi assassinado um ano depois. O principal suspeito é Rogério, seu primo, e de lá para cá a rivalidade entre os herdeiros Iggnácio e Rogério provocou muitas mortes.
Em 2020, Iggnácio foi assassinado a tiros. Segundo o Ministério Público, Rogério também é suspeito de ser o mandante do crime. Ele está preso desde agosto, acusado de corrupção.
O contato de Demétrio era Marcelo José Araújo de Oliveira, braço direito de Iggnácio, e as trocas de mensagem entre Demétrio e Marcelo revelaram pelo menos quatro planos para matar Rogério de Andrade, segundo o MP. No primeiro, a ideia seria convencer um bicheiro subordinado a Rogério a praticar o assassinato.
Demétrio queria que Iggnácio, a quem chamava de “urubu”, pagasse pela execução de Rogério. O valor seria dividido entre ele, Turnowski e Marcelo. Comentários sobre o assassinato de Marielle Franco também foram encontrados nas mensagens trocadas pelos dois delegados. Demétrio escreveu:
“Gente, o enterro da vereadora será no Caju. Mas a comemoração alguém sabe onde será?”.
A investigação da Polícia Civil identificou o autor do crime, mas não chegou a um mandante. Assista à reportagem completa no vídeo acima.
Ouça os podcasts do Fantástico:
O podcast Isso É Fantástico está disponível no g1, Globoplay, Deezer, Spotify, Google Podcasts, Apple Podcasts e Amazon Music trazendo grandes reportagens, investigações e histórias fascinantes em podcast com o selo de jornalismo do Fantástico: profundidade, contexto e informação. Siga, curta ou assine o Isso É Fantástico no seu tocador de podcasts favorito. Todo domingo tem um episódio novo.
O podcast ‘Prazer, Renata’ está disponível no g1, no Globoplay, no Deezer, no Spotify, no Google Podcasts, no Apple Podcasts, na Amazon Music ou no seu aplicativo favorito. Siga, assine e curta o ‘Prazer, Renata’ na sua plataforma preferida. Toda segunda-feira tem episódio novo.